Boas a tod@s,
Para responder a essa pergunta deveria começar a contar uma história com início a 4 de Julho de 1977 numa empresa que tinha como objecto a indústria metalomecânica, com o comércio e o fabrico de tudo que a essa indústria respeita....
A iniciativa muito voluntarista dos irmãos José Manuel e João Maria Baptista da Silva, associados a elementos do Grupo Espírito Santo que, liderados pelo Dr. Manuel Ricardo Pinheiro Espírito Santo Silva, levaram ao lançamento de um veículo de nicho que se devidamente apoiado pelas autoridades nacionais gestoras de frotas públicas, poderia ter sido um efectivo sucesso.
Com efeito, a UMM lançou no mercado, nos cerca de 15 anos de actividade no domínio da construção e montagem de veículos Todo-o-Terreno, cerca de 25 000 unidades (entidades independentes referem-se a que tenham sido apenas cerca de 15 000 unidades).
Qualquer das viaturas que produziu inicialmente os modelos CPE (Cournil Porta Estreita) e CPL (Cournil Porta Larga), seguidos do ALTER I e finalmente daquele que mais aceitação teve, o ALTER II cumpriu minimamente os propósitos do respectivo conceito, devendo-se o seu menor êxito e o seu insucesso final (cerca de 1995) ao tradicional alheamento que as autoridades nacionais (responsáveis por aquisições frotistas de grandes séries) revelam relativamente às produções nacionais. Muito embora a UMM tenha chegado a equipar o Exército, a GNR e até mesmo a EDP...não lhe foi possibilitada que equipasse outros ramos das forças armadas, nem a prática prosseguiu por parte dos anteriores adquirentes, embora a viatura mantivesse e até melhorasse as características funcionais e de manutenção que aconselhavam a continuidade da sua utilização.
Por outro lado, modificações drásticas no pacto social, com afastamento das entidades que emprestavam à marca uma elevadíssima credibilidade, aliadas à prevista alteração da motorização da viatura, e à negociação infeliz (com o Ministério da Indústria e Energia) de um projecto em que o respectivo licensor ou simplesmente parceiro de mecânica era desconhecido, conduziram a UMM para a situação de inactividade (ou quase) em que se manteve durante alguns anos. Inicialmente as viaturas eram produzidas e montadas nas instalações da MOVAUTO (que encerraram em 1992), utilizando motorizações Peugeot, marca representada em Portugal pela MOCAR, organização comercial de grande capacidade e projecção que era então possuída pelo Grupo económico já referido. Mas a produção chegou a ser efectuada quer na MOVAUTO, quer em Vendas Novas, nas instalações industriais da Baptista Russo, onde os últimos veículos foram montados após o encerramento da MOVAUTO.
O ano de 1992 deverá ter apresentado o pico máximo da produção, com 2.300 veículos, e 1993 é o palco das últimas montagens, com cerca de 300/500 ALTER II. A separação dos interesses do núcleo familiar Baptista da Silva do Grupo Espírito Santo (via MOCAR), originou ainda, com liderança deste último, o lançamento de um modelo em dimensões natural e de um protótipo completo do ALTER IV (o nosso GIL), viatura modernizada que não chegou a entrar em produção.
O núcleo familiar Baptista da Silva titula uma candidatura ao PEDIP II, com vista à recuperação da produção da viatura, ensaiando um projecto de engineering de componentes em cooperação com o INETI e os respectivos fornecedores. A não aprovação deste projecto determinou a não viabilidade na continuação da produção e comercialização de UMM's.
Este caso, cheio de vicissitudes e relativo insucesso, deveria ser alvo de um aprofundado estudo, por ser demonstrativo do completo alheamento das instituições governativas nacionais relativamente a uma iniciativa meritória a todos os títulos e para quem nunca foi desenhada uma política de preferência que viabilizaria a existência e a continuidade na produção de uma viatura nacional catalisadora de actividades interessantes, nomeadamente de I & D.
Como não gosto de história acusatórias porque sabemos o que aconteceu mas não todos os factos que determinaram os acontecimentos deixo resumidamente a visão de alguém que já não se encontra entre nós e que foi actor em alguns dos momentos acima relatados pelos cargos públicos que exerceu e pela relação com a industria automóvel e de componentes automóvel nacional.
Adaptado de História do Sector Automóvel em Portugal (1895-1995) de Luís Palma Féria Fevereiro 1999